Se eu chegar a velha vou voltar a fumar
Pinto os lábios de vermelho e fumarei cigarros longos e finos
Se tiver memória vou sentar-me no quintal
E com um megafone vou dizer o que penso
Da vida, do tempo e de quem passa
Vou usar saltos altos com meias brancas com duas raquetes
Daquelas que usava no liceu
Vou voltar a tocar às campainhas e tentar fugir
Se eu chegar a velha vou deixar que a chuva molhe a roupa estendida
Porque ela irá acabar por secar e está tudo bem na mesma
Se eu envelhecer com memória perguntarei aos meus filhos
Quais os momentos mais felizes que viveram comigo
E não terei medo de perguntar quais os momentos em que os fiz tristes
Tomara que eu envelheça com lucidez e que na memória tenha bem presente
O valor que dou ao que pensavam de mim aqueles que não tiveram a ousadia de me conhecer.