Não é um poema

Se eu chegar a velha vou voltar a fumar

Pinto os lábios de vermelho e fumarei cigarros longos e finos

Se tiver memória vou sentar-me no quintal

E com um megafone vou dizer o que penso

Da vida, do tempo e de quem passa

Vou usar saltos altos com meias brancas com duas raquetes

Daquelas que usava no liceu

Vou voltar a tocar às campainhas e tentar fugir

Se eu chegar a velha vou deixar que a chuva molhe a roupa estendida

Porque ela irá acabar por secar e está tudo bem na mesma

Se eu envelhecer com memória perguntarei aos meus filhos

Quais os momentos mais felizes que viveram comigo

E não terei medo de perguntar quais os momentos em que os fiz tristes

Tomara que eu envelheça com lucidez e que na memória tenha bem presente

O valor que dou ao que pensavam de mim aqueles que não tiveram a ousadia de me conhecer.


Publicado

por