Beja está sem voz

Nas ruas deambulam pessoas que pagaram por promessas que resultaram num vazio de tudo. Deixaram para trás um país e uma família endividada e ganharam a certeza que não serão capazes de voltar. Anda por cá também quem vinha com a intenção de entrar numa Europa que lhe foi vendida como uma galinha de ovos de ouro mas que mais não é do que miséria e portas fechadas. Bons e maus estão cá e chegam diariamente. Tal como os que cá vivem que em tantos momentos são excelentes a dar palpites e em nada fazer pela cidade.

Beja está sem voz há já muito tempo. Tanto quando é conhecida por ser uma cidade ingrata, principalmente com os seus. Não somos amigos uns dos outros. Não nos unimos. Não fazemos pela cidade e quem cá vem, ou vem perdido ou vem iludido.

As políticas para o interior Sul há já muitos anos que não existem. Estamos num completo abandono de investimento porque não temos voz. Não nos fazemos ouvir. Não nos unimos para o que verdadeiramente faz falta. Somos bons a unir-nos sim, nas redes sociais para “correr à pazada” com “esta gente que não está cá a fazer nada”. E há muitos que não estão cá a fazer nada e que não é com uma casa ou um trabalho que se integram. Têm ainda um longo caminho pela frente para que consigam largar os consumos e os hábitos. Culpa também das políticas de imigração que protegem e alimentam a escravidão, a clandestinidade, a exploração, a miséria. Há quem cá chegou com um sonho e que neste momento não tem nada. Como muitos nos dizem: “já nem me lembro de quem sentir saudade”. São anos e anos de más decisões governativas porque não se ouve quem trabalha no terreno. Não se investe em quem está diariamente a fazer milagres para que a situação não seja ainda pior do que se conhece. E conhece-se muito pouco. Mas continuamos a ser os melhores a dar palpites sem fundamentos.

É obrigatório agir-se e haver uma maior fiscalização às empresas de trabalho temporário. As entidades não podemos continuar a ignorar denúncias de habitações sobrelotadas que rendem milhares de euros mensalmente a uma só pessoa. Não se pode continuar a olhar para o lado quando há casas ocupadas a ser exploradas e também a render milhares de euros. Há “empresas” a ganhar diariamente milhares de euros por documentos falsos. Há habitações onde o tráfico de droga é referenciado e continua a existir porque é mais fácil olhar para o lado, também pela falta de recursos.

As políticas de imigração não podem não investir em mais recursos humanos para fiscalização destas ilegalidades e as ações não podem ser inconsequentes como têm sido e assim permitido o crescimento de atividades ilegais.

Estamos a criar um monstro e uma carga gigante para um país que tem tudo para saber acolher mas que há já muito que está perdido em decisões erradas que levaremos muito tempo a pagar.

E nós, aqui neste nosso cantinho, não é com vigilância nas ruas, com “pazadas nessa gente” que resolvemos nada. Não mesmo e basta conhecer o que se faz em outras cidades para perceber que estamos a anos-luz de conseguir resolver os problemas que cá temos.

Precisamos sim pressionar e penalizar as empresas que se têm escapado porque alegam desconhecimento da exploração de que são as maiores beneficiárias , à custa de trabalhadores subnutridos e explorados. Precisamos, acima de tudo, unir empresas que queiram verdadeiramente fazer alguma coisa por esta região, os políticos, as pessoas que saibam pensar a cidade muito para além do seu próprio umbigo, instituições que trabalham no terreno estas problemáticas e ter uma única voz para que olhem para nós de forma diferente e não com os olhos da parvónia de sempre.

Há pessoas que pensam que andamos de carroça e que é fantástico termos semáforos e rotundas e essa ignorância é também culpa nossa.

O caminho mais fácil é desistir mas isso não pode acontecer numa região com tanto potencial e que tem muito mais para oferecer do que cadeados e correntes nas portas, ruas vazias, e um sentimento de insegurança crescente e alimentado por uma dúzia de maus elementos que já estão referenciados mas que a lei protege por ter tanta lacuna.

Nós muito mais que isso.

Ou não seremos?


Publicado

por